Quero começar contando a minha história com um versículo bíblico.
Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.
(João 16:33)
Sou Leandro, tenho 35 anos, hemofilia A grave, moro em Sorocaba-SP e sou formado em administração de empresas.
A hemofilia não foi um choque para os meus pais, pois já sabiam que poderiam ter um filho hemofílico. Eu tinha um avô, um tio avô e um primo com hemofilia. Infelizmente hoje eles não estão mais vivos.
Como todos hemofílicos que nasceram antes da profilaxia, também passei por cada situação em minha vida que só eu, meus familiares e Deus sabemos…
Aos 5 anos descendo a escada engatinhando do apartamento que morávamos, o meu braço acabou deslizando e cheguei bater a minha costela do lado esquerdo na escada. Com essa batida simples, ocorreu um sangramento em meu pulmão, e, com os passar dos dias comecei a sentir falta de ar. Meus pais me levaram para São Paulo porque o tratamento lá era melhor que em Sorocaba e fiquei internado 30 dias tomando o fator VIII, após terem feito uma drenagem no meu pulmão.
Aos 7 anos, sofri uma queda de uma cadeira, e tive uma hemorragia na coxa esquerda. Fui levado novamente para São Paulo e precisei ficar 2 meses internado, tomando fator VIII. Mas a hemorragia acabou descendo para o meu joelho esquerdo, que inchou e a minha perna ficou dobrada. Precisei fazer fisioterapia, no CHESP durante 6 meses, para voltar a andar normalmente.
Aos 12 anos, bati a cabeça fui levado ao hospital de Sorocaba parar tomar o fator mas o médico que estava de plantão no dia, provavelmente não sabia nada sobre hemofilia… Disse para minha mãe que era sinusite, e que não ia me da fator.
Fiquei alguns dias fazendo tratamento para sinusite até que uma madrugada minha mãe me acordou para tomar o remédio eu quase tive uma convulsão. No mesmo instante ela acordou o meu pai, e me levaram para São Paulo. No hospital São Paulo fizeram tomografia que foi constatado um coagulo na minha cabeça: acabei ficando 30 dias internado, tomando fator. Graças ao bom Deus que não precisei de fazer nenhuma cirurgia.
Aos 17 anos, bati outra costela e, novamente, surgiu um coagulo no pulmão. Fomos para São Paulo, e lá, fiz uma drenagem no meu pulmão, mas desta vez, do outro lado.
Só tenho que agradecer à Deus, primeiramente ,por ter cuidado muito de mim, e por ter me dado pais tão especiais, guerreiros, batalhadores, que sempre tiveram fé e que acreditaram que dias melhores viriam sobre o seu filho e sua família.
Meus pais sempre foram grandes parceiros de trincheiras e estiveram ao meu lado para o que der e vier. Me incentivaram a praticar atividades físicas e esportes desde a infância, sempre me deixando participar de todas as atividades nas escolas, na rua e em passeios com os amigos e familiares. Mesmo sabendo que eu poderia vir a ter uma hemorragia, e assim passar a noite em claro ao meu lado ou tendo que me levar ao hospital para tomar o fator, não me privaram de nada.
Graças essas atitudes, convivi e cresci feliz, mesmo com a hemofilia, crendo que dias melhores viriam ou até mesmo que viesse a ser curado: através de algum tratamento ou através um milagre de Deus. Apesar das minhas dores e das noites em claro que passamos juntos, cresci feliz. Rs.rs.rs.
Pratico atividades físicas até hoje e, por este motivo, desenvolvi uma musculatura forte e resistente, que me livra de sequelas graves nas articulações.
Na década de 90 e no início dos anos 2000, os médicos consideravam uma loucura uma pessoa com hemofilia praticar esportes, porém eles não conseguiam entender porque eu não tinha hemorragia e hemartrose com frequência.
Por ter essa musculatura forte, resistente e flexível, que protege as minhas articulações, consigo ter uma vida muito ativa no esportes e no dia a dia. Atualmente, faço profilaxia e sou praticante de musculação, mountain bike (ciclismo MTB) e mais alguns esportes.
Sei que depois da chuva, sempre vem o Sol. Basta erguer a cabeça, acreditar e prosseguir.