Recomendações para Pessoas com Hemofilia sobre a Pandemia de Coronavírus

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Para a ABRAPHEM, a saúde e a segurança das pessoas com hemofilia e outras coagulopatias hereditárias, durante a pandemia do Coronavírus, são prioridade. 

Portanto, seguem informações específicas sobre hemofilia e Coronavírus no Brasil.

1. EM RELAÇÃO AO CONTÁGIO:

Pessoas com distúrbios hemorrágicos hereditários geralmente não estão com o sistema imunológico comprometido e não correm maior risco de infecções virais, como o Covid-19.

No entanto, se infectados pelo coronavírus, podem apresentam maior risco de complicações, pois há risco de pequenas hemorragias na orofaringe (garganta) e traqueia.

A infecção induzida por coronavírus (SARS ‐ CoV ‐ 2) pode estar associada a uma coagulopatia responsável pela trombose da microvasculatura pulmonar e por manifestações tromboembólicas sistêmicas. A fisiopatologia e o manejo desta coagulopatia da COVID-19 é provavelmente mais complexa em pacientes com doenças hemorrágicas hereditárias do que nos demais pacientes pois estes indivíduos podem apresentar outras complicações hemorrágicas e trombóticas e exigir tratamentos antitrombóticos e hemostáticos simultâneos.

Sabe-se que o tratamento dos pacientes com desordens hemorrágicas exige extremo conhecimento de especialistas em hematologia  para estancar e prevenir os sangramentos com o uso de pró-coagulantes  e que o manejo hemostático torna-se muito mais complexo e arriscado quando da necessidade de intervenções invasivas, como intubação e extubação, além do risco de trombose causado pela covid19, aumentando de forma exponencial a morbimortalidade nestas pessoas. E estes risco é ainda maior em pacientes que desenvolveram inibidor.

Em função da dificuldade de manejo, se infectados pela forma grave da doença, estes pacientes permanecerão mais tempo internados, demandarão grandes quantidades de medicações de alto custo – além daquelas já consideradas para o tratamento da doença – e demandarão maiores investimentos financeiros que os demais pacientes, impactando ainda mais o sistema de saúde.


2. 
CARACTERIZAÇÃO PARA GRUPO DE RISCO E PRIORIDADE PARA VACINAÇÃO:

Segundo a caracterização de Grupos de Risco para agravamento e óbito pela covid-19, a 6ª edição do Plano Nacional de Imunização (PNI),  considera que o agravamento e óbito estão relacionados especialmente à características sócio-demográficas. Ou seja, além dos indivíduos com maior risco para agravamento e óbito por questões de comorbidades, existem ainda grupos com elevado grau de vulnerabilidade social e, portanto, suscetíveis a um maior impacto ocasionado pela covid-19. Neste contexto, é importante que os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) também sejam levados em consideração ao pensar a vulnerabilidade à covid-19.

Nesse sentido, a ABRAPHEM entende que as pessoas com coagulopatias hereditárias, são altamente vulneráveis à Covid-19, em grande parte pelo acesso mais restrito aos serviços de saúde  que, por sua disposição geográfica, fazem com que seja necessário que o paciente percorra longas distâncias para acessar cuidados de saúde, visto que a centralização dos tratamentos para coagulopatias hereditárias, realizados por profissionais especializados, ocorre nos hemocentros coordenadores, localizados exclusivamente nas capitais do ente federativo ou em Centros especializados específicos, distantes geograficamente de sua residência, muitas vezes. Esse deslocamento impõe ao paciente altos custos e grande disponibilidade de tempo, podendo se estender por muitas horas para chegar a um serviço de atenção especializada à saúde, a depender de sua localização. São também por estes desafios que a vacinação teria um efeito protetor altamente efetivo.

Outro fato que aumenta a vulnerabilidade do grupo em questão é a indisponibilidade de produtos pró-coagulantes em hospitais estaduais, municipais, regionais ou quaisquer outras unidades de saúde do país. A medicação necessária para realização de exames e procedimentos invasivos nestes pacientes está disponível somente nos Hemocentros, que funcionam somente em horário comercial de 2ª a 6ª feira, inviabilizando, na maioria das vezes, o atendimento de urgências nos finais de semana e feriados por não fornecerem telefone de emergência.


3. 
AÇÕES DA ABRAPHEM PARA VACINAÇÃO DE PESSOAS COM DESORDENS HEMORRÁGICAS CONTRA COVID 19:

A ABRAPHEM defende a inclusão das pessoas com Hemofilia e outras desordens hemorrágicas, a partir de 12 anos, na lista de prioridades do Plano Nacional de Imunização (PNI) contra a Covid 19. Para isso, a ABRAPHEM  solicitou esta inclusão ao PNI, Ministério da Saúde,  Senado Federal, Tribunal de Contas da União, Deputados Federais e Estaduais.

Além das solicitações enviadas, mobilizamos uma petição online, que se encontra AQUI. Assine e compartilhe para dar mais força ao pedido de priorização das pessoas com desordens hemorrágicas no Plano Nacional de Imunização (PNI) do Brasil.

Consulte AQUI o modelo de carta enviada aos parlamentares e instituições governamentais, justificando o pedido.


4. 
MEDIDAS PREVENTIVAS:

Além de todas as medidas de higiene e isolamento social, preconizadas pelo Ministério da Saúde (https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#como-se-proteger ), se você ainda não está em profilaxia com fatores de coagulação, verifique com seu hematologista a possibilidade de iniciar imediatamente.

Mantenha os protocolos de autocuidado e o tratamento de profilaxia exatamente conforme prescrito. Há evidências tanto de aumento do risco de trombose quanto aumento dos sangramentos, em pacientes com infecção pelo coronavírus.


5. 
NO CASO DE CONTRAIR A COVID19:

No caso de estar infectado pelo coronavírus, comunique imediatamente o médico sobre sua coagulopatia e siga as orientações da equipe de saúde.

Comunique também, o hematologista do seu hemocentro ou CTH sobre seu diagnóstico e tratamento prescritos para a covid19.

No caso de necessitar de internação, o médico da unidade de saúde onde for internado e seu hematologista devem estar em estreita colaboração. Há alguns relatos de alteração na coagulação em pessoas com quadro grave de coronavírus, portanto, é importante que a equipe de saúde esteja ciente de que você possui hemofilia ou outro distúrbio na coagulação, caso precise de internação.

Certifique-se de que você tem o contato de seu CTH para oferecer à equipe de saúde do hospital e informe ainda os nomes dos profissionais que te atendem. Sempre que possível, tenha o celular de algum dos membros da equipe do seu CTH para o caso de uma emergência.

A Federação Mundial de Hemofilia orienta que “ Se você tiver uma infecção por COVID-19, alguns médicos sugerem terapia profilática e manutenção de níveis mais altos de fator de coagulação como precaução contra sangramento nos pulmões devido a danos potencialmente graves infligidos pelo SARS-CoV-2. Tossir ou assoar o nariz com força podem criar aumento da pressão sanguínea no cérebro, o que pode levar a sangramento. Existem relatos de casos que fornecem evidências para apoiar esta declaração.”


6. 
EM RELAÇÃO ÀS VISITAS AOS HEMOCENTROS E CTHs:

1. Na ocorrência de um sangramento, se você estiver com sintomas de gripe ou tiver tido contato com algum infectado pelo covid19, TELEFONE para o hemocentro para receber as orientações sobre como tratar este sangramento.

2. Em caso de internações (por qualquer motivo), o Hemocentro deve ser contatado imediatamente para que o fator seja enviado para unidade hospitalar em que você se encontra.

3. De acordo com informações obtidas com a Coordenação Geral de Sangue e Hemoderivados (CGSH) não há, até o momento, qualquer determinação do Ministério da Saúde para alteração no horário de funcionamento dos Hemocentros e Centros de Tratamentos de Hemofilia(CTH) ou de alteração nos atendimentos. No entanto, cada Hemocentro e CTH é autônomo para alterar sua rotina, caso entenda necessário. Por isso, se você tiver qualquer dúvida sobre horários, consultas, coleta do fator ou outra questão, entre em contato diretamente com seu CTH pelo telefone, no horário de funcionamento deste.


7. 
SOBRE A DISTRUBUIÇÃO DE PRÓ-COAGULANTES:

1. Na nota informativa Nº01/2020, sobre Coronavírus e Doenças Hemorrágicas Hereditárias, de 19/03/2020, a Coordenação Geral de Sangue e Hemoderivados (CGSH) orienta os Centros de Tratamento a dispensar os concentrados de fator de coagulação, assim como os demais medicamentos pró-coagulantes, para uso domiciliar em quantidade suficiente para um periodo de 60 dias, reduzindo assim a circulação dos pacientes e familiares durante o periodo da pandemia.

Para buscar o fator no hemocentro, não devem ir pessoas que tenham qualquer sintoma de gripe ou tenham tido contato com alguém diagnosticado com Coronavírus. Avise o Hemocentro que outro familiar ou amigo, buscará a medicação.


8. QUANTO À SEGURANÇA DOS PRODUTOS PLASMÁTICOS:

Quanto aos produtos plasmáticos para tratamento de distúrbios hemorrágicos, a Associação Terapêutica às Proteínas Plasmáticas (PPTA) não considera que o vírus COVID-19 seja motivo de preocupação com a segurança das terapias com proteínas plasmáticas fabricadas pelas empresas membros do PPTA, pois estas são inativadas com métodos de pasteurização ou calor seco, sendo algumas ainda submetidas a processos de nanofiltração.

As empresas que fornecem os concentrados de fator adquiridos pelo Ministério da Saúde do Brasil são as mesmas do PPTA e os produtos adquiridos passam obrigatoriamente por seguros processos de inativação.


Fontes:

1.Orientações sobre a Epidemia de Coronavírus para pessoas com deonças raras e seus cuidadores – Rede Raras – Observatório de Doenças Raras e equipe de especialistas.

2.https://news.wfh.org/covid-19-coronavirus-disease-2019-pandemic-caused-by-sars-cov-2-practical-recommendations-for-hemophilia-patients/

3. Management of COVID-19-associated coagulopathy in persons with haemophilia –Steven W. PipeRadoslaw KaczmarekAlok SrivastavaGlenn F. PierceMike MakrisCedric HermansInterim Guidance,Haemophilia Volume 27, Issue 1 p. 41-48

4- Item 167 do Relatório de Monitoramento, sobre a Auditoria de Natureza Operacional realizada na ação Atenção aos Pacientes Portadores de Coagulopatias, de responsabilidade da Secretaria de Atenção à Saúde/MS, (Referência: Para verificar as assinaturas, acesse www.tcu.gov.br/autenticidade, informando o código 51311037. TCU Secretaria Geral de Controle Externo Secretaria de Métodos Aplicados e Suporte à Auditoria, pag. 41 a 44, monitoramento realizado pelo TCU)